domingo, 28 de outubro de 2007

Pedaços de Mar

I
Longe , lá no fundo da baía, existem praias maravilhosas e ali escolhemos viver um tempo. Entre o cais e as casas uma rua estreira, única, por onde circulavam os poucos que vinham e iam. Todas as casas de frete para o mar de onde podia se ver as pequenas ilhas, pesqueiros, saveiros, e o nosso veleiro ali fundedos em um mar tranquilo de águas claras e espelhadas. Ali os pores-de-sol, as luas, as estrelas, as mares, a brisa, o vento, as chuvas, as lindas notas da sua divina musica , quase nunca exposta, o silêncio das noites escuras, representava tudo o que queriamos para nós naqueles quase 10 anos. Hoje, penso que muito bem guardado - a sete chaves - em nossas memórias. Eramos jovens, lindos, livres, nunca nos prometemos nada e tudo acabou como começou, tal como as águas do mar deste nosso lugar, espelhadas e transparentes e quase nada foi dito, mas creio que sentido. Estávamos no mar. Navegavamos em um pequeno veleiro apenas com a mestra, deixavamos mover ao querer de um tímido vento em um entardecer de outono. A noite chegou , nos abracamos junto ao leme e juntos ouviamos o único som possível de ouvir, das ondas que quebravam na proa deixando para trás rendas de espumas que faziam saltar de forma mágica, milhares de colonias de planctos a brilhar enchendo de vida aquele espaço que até então pensávamos, ser só nosso, mas de certa forma o era, como únicos assistentes. Nada nos dissemos, nos mantivemos juntos em silêncio todo o tempo, não existia uma outra forma de expressão para aquele momento.

II
A forte neblina não me permitia ver a aproximação do seu barco chegando à praia. Esperava há vários dias a sua chegada esperada e desesperada com a sua ausência ansiando pela sua amada presença. Fazia frio, muito frio como em todas as aldeias pesqueiras no Mar do Norte. O nosso fogo estava permamentemente aceso e toda a casa estava cálida esperando a sua volta. Em um dado momento , nas escuras e turbulentas águas do mar, vi um luz , era a sua luz, o seu sinal que avançava em direção a nós, pois há muito perdemos a nossa individualidade desde quando passamos a ser só uma alma e um só corpo que foram fundidos solidamente por uma imensa e avassaladora paixão. Esperei mais um pouco, e sai à praia ao seu encontro que ainda fundeava o barco . Ali parada na escura areia, ansiava pelo seu abraço, seu beijo salgado, pelo seu cheiro de maresia... Assim, mais uma vez você voltou, desta vez com poucos peixes mas trazia uma bagagem imensa de desejos e eles nos levaram ao nosso paraíso onde se erguiam os sonhos e as fantasias.
Por Chris Freire Gari

Um comentário:

Vitor Souza disse...

Que romântico, Chris. E olhe que eu estava esperando um final do tipo trágico, onde a luz que vinha do mar escuro trazia na verdade uma notícia ruim, mas não! Você me surpreendeu de uma forma mesmo doce.

Não conheco o lugar que descreveste, mas sem dúvida é o mais lindo que já vi.