quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Minha Cara

Sinto o presságio e sei que mais uma vez ela vem caminhado lentamente ao meu encontro tão como há 14 anos atrás. Vem chegando e se anunciando nos sonhos contextualizados com cores e texturas particulares, com fragrâncias momentâneas vindas do não sei onde. São assim as suas mensagens, como ela, imprevista. Não a temo, ela faz parte de nossa natureza e mesmo que não fosse assim, o que poderíamos fazer para impedir a sua presença quando ela aparece ? Absolutamente nada. Portanto lhe escrevo para dizer que pode chegar minha cara, à sua vez e hora, aqui não encontrará resistência, desafios impossíveis, orações preventivas, fios conectados tentando afastá-la, nada. Sei que você além de imprevisível, aparece em circunstâncias peculiares pois não escolhe sexo, idade, raça, religião, status social e como se isso não bastasse, é uma aliada incondicional de doenças, furacões, tornados, sunames, terremotos, das guerras, enfim de todos os desastres e desgraças existentes no planeta. Não sei de onde você vem, nem para onde vai. O que sei é que faz parte da minha existência como eu da sua e que um dia inevitavelmente nos encontraremos. Sinto que levo uma vantagem em relação a você porque vou ficar em um lugar determinado até desaparecer completamente, mas quanto a sua entidade, creio que não descansará até exterminar o último verme na face da terra. E depois, o que fará ? É, minha cara, sempre tem um depois .... Aprendi na aula de Física com um excelente professor que o tempo não existe, mas nunca entendi isso muito bem, e ali estava porque precisava de alguns poucos pontos para fazer o vestibular, mas creio que o professor se referia a você e penso que isso estava ligado a sua qualidade atemporal. A minha resposta será dada e estará explicita na minha hora, tal qual como foi para meu pai que a desconcertou tamanha a sua dignidade ao recebe-la. Pare com seus augúrios fatídicos, deixe os meus sonhos, saia do meu olfato e não se anuncie mais. Saiba que estarei sempre em guarda, preparada, e não desesperada para alimentar o seu mórbido prazer.
Por Chris Freire Gari

Um comentário:

Vitor Souza disse...

Muito bom, Chris! Impecável!