terça-feira, 6 de março de 2007

Um Amor Ébrio

Minha querida Deise,

Flerto já há um tempo com impulsos onde velhos como eu se apaixonam por lésbicas sempre no começo do outono.
Mas estou de pé em nossa casa, portanto não se preocupe, seguiremos o plano, crie coragem, pule da sua janela para os meus braços e riremos como nossos eternos ídolos, os mascotes das caixas de cereal.

Tudo dará certo se você se comprometer ao sonho de sonhar um sonho em comum com um sonhador, criando imagens que se tornaram, tornam e tornarão simples refrões de uma música melancólica que poderia rimar com cólica não fossem suas paranóias e obsessões.

Não as vês? As paródias do correto, as traduções de dialetos inventados por nosso amor?
Não vês? O pinico no infinito que limpei pra te impressionar?

Estarei esperando ansioso o retorno de seus beijos que nunca recebi fora aquela vez que levei um fora e ralei o joelho caindo da bicicleta importada emprestada do meu irmão,
e lá você, doces lábios de açaí adocicado, beijando a pessoa que eu queria ser.

Acho que faria bem o papel de seu pai
com você ou por você, decida como queres me ver,
cuidando e assistindo o seu crescimento ou infiltrando os orifícios que como pai diria para você proteger.

Pode ser uma bela vida essa nossa,
filhos mistos correndo pelo jardim enquanto declaro versos para os pássaros que engaiolamos para não termos que sair nunca de casa.
Guaraná e brigadeiro na casa do vizinho e uísque na mamadeira da minha avó banguela que não tem onde morrer.

Andaríamos de mãos dadas pelo subúrbio da casa de seus pais, jogando neve um no outro e convidando seus parentes para um jogo erótico no chão da cozinha.
Pentearia meu cabelo pra conquistar o seu pai,
os joelhos juntos e uma náusea sob controle.
Contaria de minha vida e de meus amigos artistas que, por razões desconhecidas, semeiam flores mal brotadas.

Se rirmos juntos pra demonstrar o quanto não nos importamos com os inimigos de nosso amor, seremos felizes e assim eu poderei facilmente contar aquelas histórias passadas que te contei pra te conquistar.

Será assim nosso casamento: olhos persistentes, um bolo de ilusão, minha mal amada sogra me observando. Teremos uma bela lua de mel quando todos os recepcionistas e manobristas saberão que terei uma gostosa noite com você. Mas sabe o que? Eu me recusarei a transar!
Passarei dias contemplando as paisagens de nosso paradisíaco destino, pensando na vida longe do matrimônio.
Assim eu quero ver o olhar decepcionado daquelas figuras engomadas.

Uma vez fui a um casamento e vi no fluxo de almas uma razão para me rebelar,
pois vi a silhueta de um trouxa pregando no altar enquanto um monge folgado admirava o meu sobrinho.
Foi lá que vi a sina recusar uma impotente iluminação.
Depois vi um monge e um hippie cantando uma oração, de utopias ingênuas e com frases clichês, bêbados pelos becos da vila.

Mas não posso me controlar, ao beber mais uma dose de um remédio qualquer que não te fará bem se você não quiser morrer.
Deise, eu quero escovar seus cabelos, fazer as unhas de seus pés e remediar aquele inchaço no seu intestino.
Quero lamber as lágrimas do desespero do seu parto, apertar um cigarro pra hora de seu infarto, chorar as lágrimas de seu falecido pai, relembrar traumas perdidos de um bom tempo atrás.

Não vês meu bem? O que tenho a oferecer? Meus laços para presente e minha direct tv?
Meu livro de poemas e minha sanduicheira? Minha alma vendida no sebo dos infernos?
Não vês meu bem que podes confiar, no meu gosto, meu cheiro, minha vontade de amar?
Não vês que eu quero o que tu queres também? um marido vestido, uma Mercedes Benz?
Nossa casa um chiqueiro, manchas de desilusão, sua sujeira, seus vícios, suas determinações.

Pense bem minha querida, o que queres da vida, como é que tu lidas com a eterna armação,
de um pobre coitado, venerado e escravo, um exemplo, um filho de uma velha ficção.
Aprendiz de um santo, viciado em absinto,
uma figura rica em contradições.

Te amo,
Doutor Macedo, PHD



-Guilherme Rocha

2 comentários:

. disse...

NONSENSE!

muito bom cara, doentio, comico, tragico e nonsense!

Vitor Souza disse...

Muibo bom, Guilherme, engraçado, sarcástico e debochado como sempre. O protagonista parece uma caricatura do Véio China.